Falando com pais (10/06)
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.
Ruben Alves
Desde muito cedo aprendemos, infelizmente, não só a dar nomes a tudo o que conhecemos, mas também a rotular, isto é, aprendemos a atribuir conceitos fechados e com significados vazios, por vezes permanentes e até mesmo imutáveis por toda uma vida, caso não tomemos cuidado com isso.
Quem nunca se deparou dizendo as seguintes frases: “Como essa criança é agitada! Não para nem um minuto sequer, ela só pode ser hiperativa!”; “Que criança mais chorona”; “Que lerdeza, não presta atenção ao que se fala”, “Ela é tímida, não consegue se relacionar com criança alguma”. Ou ainda “Por que você não é boazinha como sua amiguinha, olha como ela é obediente”. “Na nossa família ninguém é muito bom em Matemática.”, “Esse menino vive no mundo da lua.”
Rotular é criar estereótipos, ou seja, atribuir características que são compreendidas como verdades, impactando diretamente no desenvolvimento e na construção da autoimagem de quem se depara com frases prontas e carregadas de estigmas. O modo como nós adultos falamos com as crianças e os adolescentes afeta enormemente a imagem que eles têm de si próprios. Generalizar situações como “Você está sendo um garoto mau”, pode “entrar na cabeça” de uma criança como “eu sou um menino mau” e fazer com que passe mesmo a se comportar de formar “errada”, segundo os nossos parâmetros, e começar a se sentir cada vez pior diante de si.
Quando se trata de educar, seja no ambiente domiciliar como também na escola, é importante destacar que nós não nos percebemos sozinhos, ou seja, em nossa formação (da nossa infância à fase adulta) não construímos a nossa identidade sozinhos. É exatamente no relacionamento e nos conflitos com o outro que cada um de nós vai formando uma ideia de quem somos. Justamente por isso, é importante (nós – pais, responsáveis, educadores) prestarmos muita atenção nas frases que falamos ou nos “carimbos” que por vezes sem querer ou sem muita consciência, atribuindo às crianças e aos adolescentes.
Quando se trata de rótulos negativos, o mais provável é que a criança se sinta preso ao juízo de valor que é feito dela. Ao considerar e expressar em palavras que o filho ou aluno é preguiçoso, não se esforça é o mesmo que dizer que ele não se adapta ao mundo escolar. Precisamos compreender que as crianças não são iguais, pois cada uma tem seu ritmo, possui seu jeito e suas maneiras diferentes de aprender. Contudo, todas elas são capazes.
Quando os adjetivos são de caráter afirmativo, não necessariamente isso contribuiu positivamente às crianças ou aos adolescentes, pois pode gerar a falsa sensação de superioridade, de que são tão bons que ninguém os alcançarão. Isso pode alimentar uma postura arrogante, quando não tira deles a autocrítica, ou seja, podem se tornar incapazes de refletir sobre as próprias ações. Como consequência, deixam de se arriscar em áreas que não se sairiam tão bem, isso quando não se sentem capazes de lidar com as frustrações.
Diante desse cenário, como agir? Como ajudar os filhos e os alunos?
Nós todos – pais, responsáveis e educadores – precisamos ouvir nossos filhos e alunos. É preciso escutar os motivos de seus comportamentos, buscar compreendê-los. Claro que observar as oportunidades para educá-los, orientar quando uma atitude não é aceitável e fazer com que assumam as consequências. Precisamos ouvir as crianças e os adolescentes como são, afinal não há um padrão de comportamento que permaneça durante muito tempo, eles podem errar ou acertar, serem excelentes em algumas coisas e péssimos em outras. Rotular significa simplificar a vida, é preciso ouvir e fazer com que se sintam amados e protegidos, jamais estigmatizados.
Nesta época de pandemia, corremos o risco, em razão de todo estresse e ansiedades próprios do momento, incorrer ainda mais nesse “erro”. Cuidemos de nos fortalecer em família para que aproveitemos as oportunidades que também surgem em tempos difíceis.
A todos desejamos um feliz final de semana com a certeza de que mais do que nunca estamos juntos e unidos nos mesmos propósitos que é uma educação firme, assertiva, mas sem perder de vista a humanização. Um abraço!